Era uma tarde tranquila e solar quando ele mandou a ela seu conto, um
arquivo composto pela mais pura malicia, lascívia e desejo. A epígrafe era um poema de
Neruda, que hoje já não recorda; leu e releu várias vezes, e reescreveu com sua
letra imatura e um fogo avassalador, tentou colocar o papel com o poema de
Neruda na mochila dele, tentou debaixo do caderno, tentou no bolso da calça,
mas seu medo de menina virgem não deixava.
Olhavam-se ardentemente, o membro envaidecia ao ouvir a doce voz da
menina lendo um poema, suas peles queimavam e pediam um ao outro. O tempo
passava e o desejo aumentava, entre Neruda e Bashô uma faísca alucinada. Ela ardia de tanto desejo, poemas e mais
poemas para mostrar-lhe que era a ele que ela queria. As conversas eram cada
vez mais quentes, os toques pareciam lhe tocar a alma, ela andava pelas ruas
tendo sensações orgásticas.
Neruda estava lá, até quando não estava. Depois de se entregarem um ao
outro, depois do mais carnal prazer, depois da elevação do espírito, tudo
florescia, tudo era solar, tudo era música e poesia. Ao som de Chico Buarque
eles se beijavam e se amavam, os dois corpos de pele macia causavam um frisson
no universo.
Naquela tarde, ele esqueceu o livro de Neruda, mas suas línguas
ocuparam o vazio, o fogo citado nas poesias agora fazia parte do mundo real,
eles eram chama, eram letras, eram um copo de tequila, ou quem sabe um café da
padaria da esquina, eram uma canção, eram uma poesia, uma poesia de um livro de
Pablo Neruda.
(Nathally Amariá)